Neoliberalismo e crise: o avanço silencioso do capitalismo de vigilância na educação brasileira durante a pandemia da Covid-19
Resumo
Atualmente, podemos observar o crescimento de acordos envolvendo instituições públicas de ensino e empresas cuja valorização advem da coleta e tratamento de dados de seus usuários para a utilização de diversos tipos de aplicativos educacionais. Esse crescimento acelerou durante a pandemia de COVID-19, quando a emergência do distanciamento social fez crescer a demanda por ensino remoto em tais instituições. Contudo, como pesquisadores, observamos que a adesão de tais acordos é realizada sem um debate público sobre seus riscos e consequências para a educação pública brasileira, principalmente as que envolvem a segurança de dados e a privatização de parte do gerenciamento de tecnologias de informação das instituições. Esse artigo tem como objetivo documentar e problematizar a adoção de tecnologias educacionais de empresas globais de tecnologias cujo modelo de negócio é pautado na coleta e tratamento de dados dos usuários, particularmente durante a pandemia da COVID-19 no Brasil. Veremos, por meio da análise dos dados disponíveis sobre sua atuação, que o avanço desse mercado sobre a educação pública do país, acelerado durante a crise de saúde, é sustentado pelo planejamento e execução de um projeto de ampliação do envolvimento de empresas privadas e de diminuição do investimento público no setor.
Palavras-chave
Texto completo:
PDFReferências
Altmann, H. (2002) “Influências do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro”, em Educação e Pesquisa, 28(1), p. 77-89. São Paulo. doi: []
Banco Mundial (2003). Aprendizaje permanente en la economía global del conocimiento: desafíos para los países en desarrollo. Colombia, Banco Mundial e Alfaomega Colombiana. []
Cruz, L. Amiel, T. Saraiva, S. Coletando dados sobre o Capitalismo de Vigilância nas instituições públicas do ensino superior do Brasil. In: 2019, Salvador. Anais do . In: LAVITS. Salvador: LAVITS, 2019. Disponível em: []
Cuban, L. (2001) Oversold and underused: Computers in schools . Cambridge, Harvard University. []
Dubet, F. (2011) Repensar la justicia social: contra el mito de la igualdad de oportunidades. Buenos Aires, Siglo Veintiuno Editores Argentina.
Dughera, L. (2015) “Una propuesta posible acerca de cómo analizar la incorporación de planes ‘una computadora, un alumno’ en la institución educativa”, em LAGO MARTÍNEZ, S. (coord.) De tecnologías digitales, educación formal y políticas públicas. Aportes al Debate. Buenos Aires, Teseo. []
Dussel, I. (2018) “Sobre la precariedad de la escuela”, em LARROSA, J. B. (ed.) Elogio de la Escuela. Buenos Aires, Miño y Dávila Editores.
Evangelista, R. (2019) Review of Zuboff, Shoshana. 2019. The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. Surveillance and Society, Vol 17 No 1/2 (2019).
Laval, C. (2019). A escola não é uma empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público. Boitempo Editorial. []
Lindh, M., & Nolin, J. (2016). Information We Collect: Surveillance and Privacy in the Implementation of Google Apps for Education. European Educational Research Journal, 15(6), 644–663. doi: []
Madden, M., Gilman, M., Levy, K., & Marwick, A. (2017). Privacy, poverty, and big data: A matrix of vulnerabilities for poor Americans. Wash. UL Rev., 95, 53. []
Moraes, M. C. (1997) “Informática Educativa no Brasil: uma história vivida, algumas lições aprendidas”, em Brazilian Journal of Computers in Education, v. 1, n. 1, p. 19-44. []
Morozov, E. (2019) Capitalism new clothes. thebaffler.com. Disponível em
Morozov, E. (2020). Solucionismo, nova aposta das elites globais. Outras Palavras. Disponível em
NIC.BR. (2020) Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras: TIC Educação 2019. São Paulo, Comitê Gestor da Internet no Brasil.
Parra, H. Cruz, L. Amiel, T. Machado, J. (2018) Infraestruturas, economia e política informacional: o caso do Google Suite for Education. Mediações – Revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 23 n. 1, p. 63-99, Jan./Jun. 2018. doi: []
Rouvroy, A. e Berns, T. (2018) “Governamentalidade algorítmica e perspectivas de emancipação: o díspar como condição de individuação pela relação?” em BRUNO, F. et al. Tecnopolíticas da vigilância: Perspectivas da margem. São Paulo, Boitempo. []
Valente, J. A. et al. (1999) O computador na sociedade do conhecimento. Campinas, Unicamp/NIED. []
Venturini, J. (2014) Recursos educacionais abertos no Brasil: O campo, os recursos e sua apropriação em sala de aula. São Paulo, Ação Educativa. []
Venturini, J. (2020) Educação, liberdade e tecnologias: usos de conteúdos digitais por professores da educação básica no Brasil. 2020. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais com Orientação em Educação) – Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), Buenos Aires, 2020. Disponível em: . Acesso em: . []
Venturini, J., Louzada, L., Maciel, M., Zingales, N., Stylianou, K., & Belli, L. (2019) Termos de uso e direitos humanos: uma análise dos contratos das plataformas online. Rio de Janeiro: Revan. []
Williamson, B. (2017). Big Data in Education: the Digital Future of Learning, Policy and Practice. London: SAGE. []
Zuboff, S. (2018) “Big Other: capitalismo de vigilância e perspectivas para uma civilização de informação” em BRUNO, F. et al. Tecnopolíticas da vigilância: Perspectivas da margem. São Paulo, Boitempo. []
Zuboff, S. (2019). The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. New York: Public Affairs.
DOI:
____________________________________________________________________________
Revista Brasileira de Informática na Educação (RBIE) (ISSN: ; online: )
Brazilian Journal of Computers in Education (RBIE) (ISSN: ; online: )
Revista Brasileira de Informática na Educação (Brazilian Journal of Computers in Education)


